O cinema e a música: felizes para
sempre numa exposição em Paris
Musique
& Cinéma Le Mariage du Siècle - até 18 de Outubro: imagens; sons;
partituras; cartazes; manuscritos; desenhos; storyboards; instrumentos e
depoimentos de cineastas e compositores recolhidos expressamente para esta
ocasião
O
Museu da Música da Cité de la Musique, em Paris, inaugura dia 19, a exposição
"Musique & Cinéma, Le Mariage du Siècle": imagens, sons,
partituras, cartazes, manuscritos, desenhos, storyboards, fotos, instrumentos e
depoimentos de cineastas e compositores.
É um casamento
de que somos todos um bocado filhos - nas suas sucessivas encarnações (são o
mesmo casamento, o de Hitchcock com Bernard Herrmann, o de Fellini com Nino
Rotta, o de Truffaut com Georges Delerue, o de Burton com Danny Elfman?), nos
seus fulgores, nas suas crises. Parte daí, dessa tese de que uma vinculação
emocional associada ao encontro entre o cinema e a música acompanha todo o
século XX, a exposição que o Museu da Música da Cité de la Musique, em Paris,
inaugura no dia 19: Musique & Cinéma, Le Mariage du Siècle,
inventaria até 18 de Outubro, através de uma profusa selecção de imagens, sons,
partituras, cartazes, manuscritos, desenhos, storyboards, fotos,
instrumentos e depoimentos de cineastas e compositores recolhidos expressamente
para esta ocasião, "as relações antigas e complexas entre as duas grandes
indústrias culturais do século XX", escrevem Laurent Bayle, o
director-geral da Cité de la Musique, Éric de Visscher, o titular do museu.
O comissário da exposição
seleccionou uma série de pares paradigmáticos - além dos já citados, também os
"casamentos", nalguns casos radicalmente monogâmicos, de Blake
Edwards com Henry Mancini, de Spielberg com John Williams, de David Lynch com
Angelo Badalamenti, de David Lean com Maurice Jarre, de Jacques Audiard com
Alexandre Desplat - para ilustrar a profunda permeabilidade entre os universos
do cinema e da música.
e um olhar panorâmico que não exclui as experiências mais
"ideológicas" do cinema soviético (Shostakovich, Prokofiev) nem as
aventuras mais comerciais do cinema musical americano. Musique & Cinéma,
Le Mariage du Siècle também não exclui as relações mais casuais, por vezes
até de verdadeira conveniência, entre banda sonora e matéria filmada, mas
explora mais apaixonadamente os casos em que a música é o verdadeiro mito
fundador do filme (como em Os Guarda-Chuvas de Cherburgo, de Jacques
Demy e Michel Legrand: "Era verdadeiramente como numa ópera, inteiramente
cantado, e isso colocava problemas a priori inultrapassáveis (...). Toda
a música estava gravada. O filme existia em disco mesmo antes de ser rodado. Também se fala de Era Uma Vez na América, de Sergio Leone:
"Não sei em que medida a minha música, pela qual o Sergio tinha muito
respeito, influenciou o conjunto, mas pelo que me contaram o montador Nino
Baragli quis seguir o ritmo da minha composição", conta Ennio Morricone).
Além
do catálogo coordenado pelo comissário da exposição, o crítico e realizador
N.T. Binh, Musique & Cinéma, Le Mariage du Siècle virá acompanhada
de um programa paralelo que inclui concertos (destaque para o filme-concerto de
Michael Nyman, que estreará uma nova banda-sonora para O Couraçado Potemkine,
de Eisenstein) e um colóquio sobre música e cinema.