quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

... naquele engano de alma ledo e cego...

“Frei Luís de Sousa” de Almeida Garrett
no Teatro D. Maria II | 9 a 19 Fev´12

Esta coprodução da Among Others Associação e o Teatro Garagem tenta juntar, em simultâneo, o texto de Garrett e a ficção que Diogo Bento e Inês Vaz. O espectáculo mostra a pertinência dessa combinação e a actualidade do texto: como servir os desígnios de Garrett e coordenar com os princípios criativos da proposta. Um espectáculo apelativo.

Nós queremos amor, queremos amor que nos faça tremer da cabeça aos pés e que nos tire o sono, queremos vida ou morte, queremos sangue, duelos, convicções, lutas, ideais, queremos ultrarromantismo, pores do sol, mar bravo e campos de batalha cobertos de corpos, queremos ter força para mudar o mundo e fingir que acreditamos que tudo é possível e que o futuro é tudo o que nos espera...

Mesmo sabendo que a Maria morre e que os outros ficam sozinhos ou vão para o convento, mesmo sabendo que não vai dar certo, mesmo sabendo que a vinda do Romeiro é inevitável, mesmo sabendo que não há salvação para ninguém e que é preciso haver um bode expiatório, nós vamos continuar.
É mais ou menos como um pensamento esquizofrénico que nos guia quando acreditamos que não é possível e que não depende de nós e, mesmo assim, fazemos tudo com a mesma convicção, ou até mais, para que aconteça. Neste caso, para que a Maria não morra sozinha a cuspir sangue. Porque, até lá chegarmos, tudo pode mudar. Porque, na verdade, tudo tem em si a potência para ser tudo e para mudar.

criação Diogo Bento, Inês Vaz 

desenho de luz Joana Galeano

desenho de tela Miguel Boneville
interpretação Diogo Bento, Inês Vaz, Elisabete Fragoso

Acto I
Madalena (só, repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler)
"Naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito".
Com paz e alegria d´alma... um engano, um engano de poucos instantes que seja... deve ser a felicidade suprema neste mundo. E que importa que o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer...

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