Quando, Lídia, vier o nosso outono
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.
Ricardo
Reis
Uma névoa
de Outono o ar raro vela,
Cores de
meia-cor pairam no céu.
O que
indistintamente se revela,
Árvores,
casas, montes, nada é meu.
Sim,
vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim,
sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre
mim e ver há um grande sono.
De sentir
é só a janela a que eu assomo.
Amanhã,
se estiver um dia igual,
Mas se
for outro, porque é amanhã,
Terei
outra verdade, universal,
E será
como esta [...]
Fernando Pessoa
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