Somos um país pequeno. Unificados nesta forma rectangular desde o quarto rei da dinastia afonsina, depois de batalharmos com os “espanhois” e os “árabes”. Assim permanecemos, com um iato de 60 anos e com um período de grande expansão, quando demos novos mundos ao mundo, com uma vocação colonial e imperialista, de que nos podemos orgulhar e também penalizar, por virtudes/inovação/imaginação e muitos erros cometidos. Lisboa foi cosmopolita e confluência de rotas mercantis. Liderámos tecnologias. As confusões entre interesses económicos e religião levaram a abusos, expulsões, extorções, de que não nos orgulhamos. Uma histórias de homens feitas por homens. Alianças fortaleceram-nos e guerras fizeram-nos sofrer. (assim escreveu Martin Page “The First Global Village: How Portugal Changed the World”). A experiência brasileira é exemplar de resposta à não subjugação a potências externas, e do modo soubemos contemplar, com uma certa serenidade, o aparecimento de uma nação enorme que fala português. Já a experiencia africana é uma ferida na recta final da (des)colonização.
É bom olhar de um modo tranquilo o passado, e conseguir, com distanciação, ter um certo apreço por este povo (de que faço parte), com um entendimento das nossas capacidades e dos nossos pontos positivos (e limitações). Enfim ter um certo amor pelo nós próprios (ego)…
Tudo isto para nos remetermos, agora, num passado mais próximo, a começar no último século. Neutrais na segunda guerra mundial, o país enquistou sobre o jugo do ditador. Fechado, voltado para si mesmo, orgulhosamente (e estupidamente) só, mergulhámos num periodo obscurantista, mesquinho e terceiro mundista. O país dos 3 Fs. O português comum sofreu, emigrou levando consigo uma imagem obscurantista que transmitia. A nossa credibilidade e audiência exterior era nula nas artes, ciências e tecnologia (e mesmo política). Surge a hipótese da Europa. Doa a quem doer era o caminho a seguir. O país modernizou-se, abriu-se ao exterior, uma bem vinda revolução silenciosa e calma acontecera, e muitos de nós sentimos que o nosso espaço alargava e participávamos de direito próprio num forum europeu e mundial mesmo. Tinhamos interlocutores, parceiros. Não é por acaso que lugares de prestígio mundiais foram no passado recente ocupados por portugueses. Estes tópicos são controversos, nem todo o país avançou à mesma velocidade, mas na realidade, em geral, passámos a ter uma maior apreciação de um ego destruído e adormecido. Afinal não éramos tão maus e tentámos recuperar e deitar fora muitas frustações e recalcamentos. Mas a história neste caso não parece estar a ter um final feliz. Na realidade, a sucessão de desvarios, erros básicos, corrupção, leviandades e também ingenuidades (benefício da dúvida), a ausência de um plano director de vontade da defesa nacional (e não partidária), de uma justiça operante, e muitas outras, em conjunto com uma conjuntura económica adversa externa colocaram-nos numa situação sem precedentes. A nossa imagem exterior, com arrastamento à situação grega, faz-nos doer o coração e a alma. Como português, sinto que este olhar de externos compromete muito do esforço que muitos fizeram, e por causas em que lutaram e acreditaram. Uma revolta latente é sentida. Uma revolta contra todos os que conscientemente abusaram de nós, e sem escrúpulos nos conduziram a uma situação que esperamos não seja de “não retorno”. Não queremos ficar de braços cruzados, mas as dificuldades são enormes, no viver do dia a dia, com os baixos salários, com desemprego presente (crescente), com faltas de oportunidades e horizontes para os mais novos, num país onde as desigualdades sociais existentes aumentam a toda a hora. Qualquer actividade económica e do tecido produtivo parece comprometida, na loucura de conter o défice, por itens que não são os mais eficazes. Imaginar um aumento da contribuição do sector productivo é preciso. É urgente, tomar medidas de reduzir eficazmente a despesa da máquina estatal (continuam os “jobs for de boys” não tenhamos dúvidas, entre muitos outros desvarios). Mas não se pode resolver problemas com soluções pequeninas e de curto alcance, onde o que transparece é um aumento de burocracia estúpida de conter despesas impedindo que a realização de tarefas urgentes (prementes) ocorram e prossigam. Não comprometer o futuro deve ser prioridade e preocupação, de qualquer governante.
Um problema complexo, para o qual não tenho solução imediata, nem capacidade para o resolver. Urgente no entanto, que o cidadão comum e atento, participle nesta discussão.
pós 5 de Out
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