Este poema carrega muito de reflexões... um olhar para trás e para a frente...
Autor: Mário Raul de Morais de Andrade (São Paulo, 1893-1945) foi um
poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta
brasileiro. Considerado o criador da poesia moderna brasileira com a publicação
de seu livro Paulicéia Desvairada em 1922. Andrade exerceu uma influência
enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso. Foi a
figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos.
O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando
seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da
minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que
apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!
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