sábado, 15 de março de 2014

... sobre filmes...

(Adaptado de João Lopes, Diário de Notícias, 9 Março)

Que mercado para os filmes?
Que filmes para o mercado?
Que televisão para que cinema?
Como (re)pensar as audiências cinematográficas?



A Cine-Regio é uma rede europeia que agrega entidades de 14 países envolvidas no apoio à produção e difusão cinematográfica (Portugal não está representado). E acaba de publicar um relatório (Michael Gubbins) sobre a evolução do mercado e as práticas do espectador comum.
“Audience in the Mind | “A pensar na audiência”.





Em termos esquemáticos, o trabalho de Gubbins parte do reconhecimento do impacto da revolução digital. Assim, por um lado, não tem sentido alimentar qualquer ressentimento “nostálgico” fixado no tempo em que os filmes em película constituíam uma clara maioria técnica e artística; por outro lado, importa reconhecer que a nova conjuntura exige um pensamento ágil de todas as formas de relação — desde a informação às especificidades da informação — com os espectadores que, melhor ou pior, já foram formados por uma cultura da Internet.

O relatório começa por chamar a atenção para a mudança da audiência acontecer através de um novo espaço de oferta, “fragmentado e, por vezes, contraditório”. Daí o desequilíbrio que se encontra em diversos “níveis de produção”, com ligações débeis entre “a indústria e a procura”, nessa medida podendo mesmo contrariar a “diversidade cultural”.

A análise de Gubbins é suficientemente extensa para não alimentarmos a ilusão de a podermos sequer resumir neste espaço. Seja como for, nela encontramos um estímulo para resistirmos à estupidez demagógica que insiste em pensar (?) o mercado a partir da oposição entre filmes “intelectuais” e “populares”. Para nos ficarmos por um fenómeno sintomático, lembremos o impacto das chamadas reposições nos últimos dois anos em Portugal, desde o regresso de Vertigo, de Alfred Hitchcock, até ao relançamento de um pacote de filmes de Ingmar Bergman, ou mesmo Casablanca e 2001 Odisseia no Espaço. Mesmo numa escala reduzida, o seu sucesso mostra que o conceito de espectador não pode ser reduzido aos valores do marketing dominante — neste século digital, a cinefilia passa também pela capacidade de superar a estreiteza cultural e comercial de tais valores.

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