(Adaptado de João
Lopes, Diário de Notícias, 9 Março)
Que
mercado para os filmes?
Que
filmes para o mercado?
Que
televisão para que cinema?
Como
(re)pensar as audiências cinematográficas?
A
Cine-Regio é uma rede europeia que agrega entidades de 14 países envolvidas no
apoio à produção e difusão cinematográfica (Portugal não está representado). E acaba
de publicar um relatório (Michael Gubbins) sobre a evolução do mercado e as
práticas do espectador comum.
“Audience
in the Mind | “A pensar na audiência”.
Em
termos esquemáticos, o trabalho de Gubbins parte do reconhecimento do impacto
da revolução digital. Assim, por um lado, não tem sentido alimentar qualquer
ressentimento “nostálgico” fixado no tempo em que os filmes em película
constituíam uma clara maioria técnica e artística; por outro lado, importa
reconhecer que a nova conjuntura exige um pensamento ágil de todas as formas de
relação — desde a informação às especificidades da informação — com os
espectadores que, melhor ou pior, já foram formados por uma cultura da
Internet.
O
relatório começa por chamar a atenção para a mudança da audiência acontecer
através de um novo espaço de oferta, “fragmentado e, por vezes, contraditório”.
Daí o desequilíbrio que se encontra em diversos “níveis de produção”, com
ligações débeis entre “a indústria e a procura”, nessa medida podendo mesmo
contrariar a “diversidade cultural”.
A
análise de Gubbins é suficientemente extensa para não alimentarmos a ilusão de
a podermos sequer resumir neste espaço. Seja como for, nela encontramos um
estímulo para resistirmos à estupidez demagógica que insiste em pensar (?) o
mercado a partir da oposição entre filmes “intelectuais”
e “populares”. Para nos ficarmos por
um fenómeno sintomático, lembremos o impacto das chamadas reposições nos
últimos dois anos em Portugal, desde o regresso de Vertigo, de Alfred
Hitchcock, até ao relançamento de um pacote de filmes de Ingmar Bergman, ou
mesmo Casablanca e 2001 Odisseia no Espaço. Mesmo numa escala reduzida, o seu
sucesso mostra que o conceito de espectador não pode ser reduzido aos valores
do marketing dominante — neste século digital, a cinefilia passa também pela
capacidade de superar a estreiteza cultural e comercial de tais valores.
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