quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Ficcionando ... em torno da Pandemia

Ficção científica é um género literário que usa conceitos ficcionais e imaginativos, relacionados com futuro, ciência e tecnologia, e seus impactos e/ou consequências na sociedade ou nos indivíduos. Em geral nem sempre o futuro descrito em ficção é agradável nem aquilo que queríamos que fosse. Mas também pode augurar algo de bom no que há de vir.

 

Junto aqui dois textos meus (um que já tinha postado) com duas visões desses futuros em tempo de pandemia.

 

 

Texto 1

Em 2030 ...

 

Hoje fiz 18 anos. Desde o começo da pandemia (em 2020) passaram-se 10 anos. Pois, nessa altura tinha 8 anos, e o que estava a acontecer ia sendo apercebido, mas muito filtrado pelos que me rodeavam. Em Março de 2020, por alguns meses, não fui à escola, até me diverti com a aprendizagem na TV, uns professores mais cromos que outros, mas todos a tentarem fazer o seu melhor e a adaptarem-se aquelas novas realidades e ia vendo também o professor oficial. Na bolha em que vivi com os meus pais e, em rasgos ocasionais, ver os meus tios, primos e avós (quando passava na rua deles e acenávamos para a varanda), o modo de manter contacto era o whatsapp e skype (e zoom). As coisas decorriam paulatinamente e a situação até não parecia muito anormal. Em Maio de 2020, finalmente juntámo-nos ao ar livre e o verão foi relativamente ameno, com muitas máscaras à volta que levantavam pistas de que havia problemas. Os meus primos e irmão levavam a sua na boa, e na realidade estavam contentes com a bolha mais alargada que lhes trazia um certo conforto.

E depois voltámos à escola em set/out, mas notava que havia muita preocupação...  e enormes problemas nos hospitais.

Houve coisas que percebia que iam ser difíceis de fazer tão cedo. Na “bolha familiar” falava-se de viagens e de festas de outrora (em particular de festas de anos... o meu irmão teve algo muito restrito) e na realidade viajar de avião era prática que eu e os miúdos da bolha pouco conhecíamos, e nem sequer comprar caramelos, como dizia o meu avô, a Badajoz...

Foi há 10 anos ... hoje continua a estar muito calor. Na realidade, o clima tem-se alterado, e tenho seguido as causas das alterações climáticas. Não só o calor, mas a instabilidade das condições atmosféricas. Em 2020, as promessas sobre uma vacina para a pandemia traziam esperanças, mas a falta de adesão das populações e as dificuldades de produção arrastaram o processo. Agora, em alguns países ainda continua o processo de vacinação e estamos talvez à beira de atingir a tão desejada imunidade. Acho que aprendi a viver nestes 10 anos em altos e baixos. Fomos acompanhados de muitas baixas. Mantive um núcleo de amigos restritos, fora da bolha, com intermitências de presenciais e online na escola. A minha formação académica foi-se fazendo, muito apoiado pela família. Temos discutido, na bolha, que rumo tomar. Nem eu próprio sei. Sinto que devo procurar ter uma formação mais generalista, multidisciplinar. Mas o panorama não é brilhante. O pequeno comércio continua a ser uma ilha que nos permite sobreviver...  espaços maiores abrem e fecham. Aprendemos a viver com o essencial. A maior parte do trabalho é precário... a vida dos operacionais da saúde é um sobressalto constante. Penso que tenho de encontrar um nicho de trabalho, autónomo, que permita operar de casa. 

De vez em quando vejo filmes de antes... difícil de relacionar... são “realidades” que desconhecemos... os jantares em grandes grupos, os grandes concertos, as grandes salas de espetáculos. As “diversões” são muito manipuladas pelas cadeias de TV, como tem acontecido desde 2020. 

E o calor continua...




 

Texto 2

No tempo em que o vírus acabou...

 

Todos passámos pela experiência de viver um sonho (ou um pesadelo), que nos impressionou. Mas ao acordar, passados 5-10 mins, é difícil reproduzir os acontecimentos de um modo detalhado e acabam no esquecimento. Hoje foi uma dessas noites visitadas por um bom sonho, e neste caso, assim como nas ideias repentinas, gravar de imediato o momento vivido, por palavras no telemóvel (mesmo às 6am), pode ser a solução para conservar um registo.

 

O sonho falava no tempo em que o vírus acabou... e a cidade comemorou o final deste período inaudito... a cidade estava em festa e engalanada, todos queriam comemorar com todos, uma grande sede de abraços, beijos, de conversas a menos de 2m... o reencontro com aqueles que tanto gostávamos e com aqueles que não tanto.

No tempo em que o vírus acabou, houve música, muita música e dançámos... e comemos e bebemos. Trocámos flores, mas não eram cravos, eram todas as flores com todas as cores, um 1º de Maio renovado. Houve teatro e cinema à noite. O medo e a solidão partiram.

No tempo em que o vírus acabou... não queríamos mais lembrar o que se tinha passado. Queríamos acreditar (e tínhamos de acreditar) que o futuro ia ser melhor, mas diferente, a vida não seria igual, mas ia ser VIDA.

No tempo em que o vírus acabou... lembrámos os que tinham partido, os nossos e os outros. Cantámos até a garganta doer: a “Marselhesa”, a “Bella Ciao”... e as nossas canções... e as línguas, faladas pela multidão, tinham-se fundido numa Babel entendível.

No tempo em que o vírus acabou... vai acontecer!








 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

domingo, 3 de janeiro de 2021