domingo, 27 de julho de 2014

LIVROS | LIVROS | LIVROS

Não é por acaso que quando se olha para a estante (em casa de alguém), imediatamente muito se aprende (e desvenda) sobre os gostos e personalidade do proprietário...


domingo, 20 de julho de 2014

Uma Cidade Internacional para a Literatura?

| José Jorge Letria
Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

DAS CULTURAS

Há alguns meses, Le Monde des Livres publicou um interessante e inesperado manifesto, assinado por 33 escritores de várias nacionalidades, propondo, com base num conceito abrangente e inovador, a criação de uma Cidade Internacional da Literatura. O manifesto, que não prescreveu nem caiu no esquecimento, é assinado, entre outros, por Paul Auster (Estados Unidos da América), Javier Cercas (Espanha), Peter Esterházy (Hungria), Pierre Bayard, Pierre Michon, Nancy Huston, Ersi Sotiropoulos (Grécia) e Alberto Manguel (Canadá). 
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Independentemente das tecnologias que lhe asseguram a difusão, o livro continua a ser um poderoso pilar da partilha de saberes. O livro e a leitura constituem importantes factores de progresso e entendimento crítico da realidade, sendo raros os momentos em que se debate a vida cultural de uma região ou de um país sem se dar a este sector criativo e industrial o relevo que ele amplamente merece. Esse destaque resulta da circunstância de o livro envolver vertentes fundamentais como o saber, a educação, a cultura, o sentido da liberdade e a própria emancipação social. Quem lê e sabe o que e por que lê torna-se seguramente mais livre e mais seguro do caminho que pretende percorrer, constrangido ou não pelas dificuldades de índole social, económica e financeira que se multiplicam em seu redor.
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O projecto desta Cidade Internacional, que também deve estimular os portugueses ligados a este sector, mostra que a Europa atingida pela crise, que também deixou marcas pesadas na fase inicial do Mundial do Brasil, não será por carência de ideias que desistirá de delinear um futuro que represente as mudanças que abrem portas à esperança, à confiança e ao futuro, caiba o que couber nesta palavra, a começar pelo valor da liberdade.

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/uma-cidade-internacional-para-a-literatura-1663263
(fonte)

sexta-feira, 18 de julho de 2014

...acaba HOJE!

31º FESTIVAL DE TEATRO DE ALMADA
4 DE JULHO A 18 DE JULHO

texto do press release

Há quem o conheça como "o Avignon de Portugal”. Um crítico galego chegou a chamar-lhe mesmo “um transatlântico movido a pedais”. Nasceu há três décadas, em 1984, por iniciativa de Joaquim Benite que, alguns anos antes, trocara a capital onde tudo acontecia por uma terra de gentes de trabalho na margem sul do Tejo, para fundar a Companhia de Teatro de Almada. De pequena mostra de companhias amadoras, cresceu, solidificou-se e trouxe até nós os nomes maiores da nobre arte do teatro. Hoje, o Festival de Almada é património de uma cidade, de uma região, de um país. É o maior evento teatral realizado em Portugal e, mesmo sem a presença física de “mestre” Benite, continua, por obra de Rodrigo Francisco, atual diretor, a apresentar o melhor do teatro e das artes performativas mundiais.
“Não fazemos festivais temáticos”, sublinha Rodrigo Francisco. “Aquilo que sustenta a nossa escolha é a qualidade e o facto de cada espetáculo ser representativo daquilo que se faz no mundo”, acrescenta. Nesta edição, o Festival apresenta seis estreias, assumindo “um certo gosto pelo risco”. A destacar, duas produções de fôlego: Paysage Inconnu, a última criação do prestigiado coreógrafo Josef Nadj, e Cais Oeste, de Bernard-Marie Koltès, encenado pelo croata Ivica Buljan com a Companhia de Teatro de Almada.
Para além dos espetáculos de rua, o Festival de Almada apresentou 30 produções provenientes de vários países da Europa, Canadá e Argentina. O ciclo dedicado ao novíssimo teatro argentino, com coletivos da cidade de Buenos Aires; as criações dos prestigiados Declan Donnellan (Ubu Roi, de Alfred Jarry), Joël Pommerat (La Réunification des Deux Corées), Paco de La Zaranda (El Régimen del Pienso, de Eusebio Calonge) e Emma Dante (Le Sorelle Macaluso) são apenas alguns exemplos da programação de luxo desta edição.
O teatro português marcou também presença na festa. Para além do encontro com as mais recentes produções da Cornucópia de Luís Miguel Cintra (Íon, a partir de Eurípedes), d’ O Bando de João Brites (Almada de Quarentena) ou do Meridional de Miguel Seabra e Natália Luiza (Al Pantalone, de Mário Botequilha), destacam-se dois espetáculos em torno da poesia: Ode Marítima, de Álvaro de Campos, com Diogo Infante, e Os Lusíadas (na integra), de Luís de Camões, numa “contação” de António Fonseca. Do norte do país, chegam os Circolando (e o seu Arraial Deluxe) ou o Teatro Oficina (com Círculo de Transformação em Espelho, de Annie Baker), e de Torres Vedras, a Companhia João Garcia Miguel (Os Negros e os Deuses do Norte).

A personalidade homenageada nesta edição foi o ator e encenador Luís Miguel Cintra (ver itens relacionados), que teve uma exposição concebida por Cristina Reis sobre o seu percurso e, inevitavelmente, o do Teatro da Cornucópia, que cumpriu em 2013 quatro décadas de existência. A imagem desta 31.ª edição é da autoria do pintor Manuel Vieira, que terá uma exposição de trabalhos recentes na Casa da Cerca, em Almada.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Once upon a time...

Nadine Gordimer (1923-2014)

escritora sul-africana distinguida com o Nobel da Literatura em 1991, morreu no passado domingo, aos 90 anos. 


quarta-feira, 9 de julho de 2014

algo vai mal neste reino....

Educação e Ciência motivam artigos de opinião...
... preocupante... a ler... (PÚBLICO)

Carlos Fiolhais
Vitor Malheiros

http://www.publico.pt/opiniao/noticia/da-vergonha-da-falta-dela-e-da-incapacidade-etica-1661950

Gonçalo Calado
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/um-cavalo-de-troia-na-ciencia-portuguesa-1662202




quinta-feira, 3 de julho de 2014

... as escolhas de Sophia.... o momento é de Sophia...

Sophia de Mello Breyner | “A cultura é cara, a incultura é mais cara ainda”
(DAS CULTURAS)

1 – A ARTE deve ser livre porque o ato de criação é em si um ato de liberdade. Mas não é só a liberdade individual do artista que importa. Sabemos que quando a Arte não é livre o povo também não é livre. Há sempre uma profunda e estrutural unidade na liberdade. Onde o artista começa a não ser livre o povo começa a ser colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata. Se o ataque à liberdade cultural me preocupa tanto é porque a falta de liberdade cultural é um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro.

2 – NÃO PENSO que exista uma arte para o povo. Existe sim uma arte para todos à qual o povo deve ter acesso porque esse acesso lhe deve ser possibilitado através dos meios de comunicação. Primeiro os “aedos” cantaram no palácio dos reis gregos “o canto venerável e antigo”. Era uma arte profundamente aristocrática. Depois os rapsodos cantaram esse mesmo canto na praça pública. E Homero, foi, como se disse, o educador da Grécia. Isto é: a cultura foi posta em comum. E por isso os gregos inventaram a democracia. A política começa muito antes da política.
Penso que nenhum socialismo real será possível se a cultura não foi posta em comum. Quando o aedo, ou poeta medieval cantavam na praça o seu poema era ouvido por todos, mesmo pelo analfabeto. E viajava por todo o país e de país em país: por isso o mirandês canta Mirandolim-Marlbourg.
Depois a cultura fechou-se em livros e os analfabetos e os pobres foram rejeitados. Tudo se tornou mais complexo e complexado. As comunidades foram divididas e cada homem foi dividido dentro de si próprio. Será preciso um enorme paciente e múltiplo e obcecado esforço para construir o mundo de outra maneira. E é preciso que nenhum dirigismo esmague esse esforço.
É evidente que no mundo atual encontramos a par da arte uma meta-arte. O cubismo é uma meta pintura, uma pintura sobre a pintura. Arte e meta-arte alimentam-se e inspiram-se mutuamente e penso que este é um dos caminhos, uma das possibilidades. Foi a ler Proust e Rimbaud que aprendi a escrever para crianças. O simplismo e o populismo nunca conduzirão a nada. Se João Cabral de Melo é capaz de escrever uma obra como “Morte e Vida Severina” é porque é capaz de escrever “Uma Faca só Lâmina”. “Morte e Vida Severina” é um poema que todos entendem, mas nele as imagens são tão precisas, e os versos tão densos como em “Uma Faca só Lâmina”.
Creio que o “poema para todos” é, dentro da cultura em que estamos, o poema mais difícil de escrever. Creio que esse poema é necessário e por isso tenho procurado encontrar um caminho para ele. Por isso em “Livro Sexto” invoquei
O canto para todos
Por todos entendido
Mas sei que esse poema não se programa. E por isso, já depois do 25 de abril escrevi:
Um poema não se programa
Porém a disciplina
Sílaba por sílaba
O acompanha
Mas a disciplina do poema não é a da política.
O poema é disciplinado pela sua própria necessidade.

Nem o próprio artista se pode programar a si próprio. O Ministro da Comunicação Social disse que os períodos revolucionários não eram propícios às artes de vanguarda. Não podemos esquecer que também Hitler e Salazar não se entendiam bem com a arte de vanguarda e que ambos a perseguiam. Um verdadeiro período revolucionário está aberto a todas as formas de criação.

3 – É EVIDENTE que há incoerência. As campanhas de dinamização são mais políticas do que culturais. Fazem um doutrinamento político que deve ser feito pelos partidos. Pois não há doutrinamento apartidário. Não há angelismo político. Um doutrinamento político que se apresenta como apartidário é necessariamente ambíguo.
Vivemos no pluralismo. Mas não queremos viver na ambiguidade. Queremos que o pluralismo seja nítido e declarado com clareza. Que todo aquele que exerce uma atividade de doutrinamento político diga aos outros o partido a que pertence ou que apoia.
Queremos uma revolução clara. Queremos a clareza e a coerência dessa clareza. Este país tem neste momento uma intensa consciência da necessidade de clareza.
A política é um capítulo da moral. O povo que somos votou conscientemente e quer a política que escolheu. Queremos justiça social concreta mas sabemos que essa justiça só se poderá construir na liberdade e na verdade.
Sabemos muito claramente o que não queremos. Não queremos a violência, não queremos que a liberdade seja sofismada. Não queremos nem inquisições nem perseguições. Não queremos política da terra queimada. Não queremos política imposta. E no plano da cultura queremos acima de tudo que a política não seja anti-cultura.
A demagogia é a traição cultural da revolução. Porque a demagogia é a arte de ensinar um povo a não pensar. Um provérbio africano diz: Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba. Não queremos continuar a suportar a baba dos slogans.
Querer fazer política cultural quando os meios de comunicação estão inundados de demagogia é uma incoerência radical. O ministro da comunicação referiu-se ao facto de o trabalho dos artistas ser agora pago pelo povo. Também muitos jornais são agora pagos pelo povo e todos os dias custam ao povo uma despesa escandalosa.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

verão preguiçoso...

... o verão vem lento...
... praia morena, caparica...
... hoje...
... brisa e algum sol...
... as cadeiras na areia esperam... 

terça-feira, 1 de julho de 2014

citando José Gil...


Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos – porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convívio. A solidariedade efectiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil.

 Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças – em vias de me transformar num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.

Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de acção. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país.

José Gil (retirado do Facebook)... em Das Culturas.