segunda-feira, 18 de outubro de 2010

nos palcos ... reflexões


Os Dias dos Prodígios da Hedda
ou
Lisboa um grande Palco

Duas peças de teatro recentemente levados a cena em Lisboa servem de base para estas reflexões. Uma versão da Hedda Gabler de Ibsen, criação dos Artistas Unidos, que pela mão de Jorge Silva Melo levam a cena a adaptação do texto de José Maria Vieira Mendes (Teatro São Luís). Um texto publicado pela Cotovia (Livrinhos de Teatro) que é fluido e dá actualidade ao texto de base. Muitos não gostaram da eliminação “sumária” de algumas personagens que acham fulcrais. Maria João Luís (a Hedda) ganha uma centralidade enorme e mas não chega para encher o enorme palco/cenário/sala onde a colocaram. Perdeu-se a intimidade. Na outra sala do Chiado (Teatro da Trindade), Cucha Cavaleiro (com Carlos Paulo – Comuna) levam a cena o Dia dos Prodígios de Lídia Jorge. Por muito apreço que tenha pela Cucha Cavaleiro (que bem ia na Cabra do Albee, na Comuna!) não conseguiu modernizar um texto extremamente datado (embora no programa a Lídia Jorge diga que sim), ainda por cima com um cenário castrante e demasiadamente explicativo/óbvio.

Mas mesmo assim, Lisboa (e arredores) está fervilhante de teatro. A Comuna, a Cornocópia (recentemente a Dança da Morte), o TNDM II, o Teatro de Almada (todo o Festival Anual de Teatro que organiza e a Ifigénia na Taurida com Luís Miguel Cintra), o Teatro Meridional (que delícia a A Rainha da Beleza de Leenane levada a cena, há pouco), a Mala Posta, o Teatro Municipal de Oeiras (Sabina Freire), etc, etc. ... proporcionam-nos obra a ver. Em muitos casos as casas estão cheias e muitas vendas são feitas com grande antecedência. Penso que as telenovelas e TV têm ajudado a este fenómeno. Peças interessantes, jogam com actores conhecidos do grande público, e atraem audiências. O fenómeno é conhecido em Londres e na Broadway (quem não quer ir ver a Petula Clark, a Catarina Zeta-Jones, a Julie Andrews, etc... ?). Portanto o teatro está vivo, fez as pazes com o grande público e ainda bem. Pena que muitas vezes o tempo e esforço despendido numa produção não possa ser ampliado no tempo de exibição. Os compromissos de utilização dos espaços talvez pudessem ser ultrapassados pela existência de um plano B (salas secundárias) onde as produções fossem continuadas.  

3 comentários:

  1. Na era em que "facebookar" ou "twittar" são acções (re)correntes, louvo o facto do Teatro ter feito as pazes com o público...
    No entanto, aguardamos uma (prometida?) descentralização cultural, para que, gradualmente, se diminuam assimetrias... Fendas enormes que acentuam, dia após dia, a pequenez de Portugal...
    Faço votos para que o "plano b" aconteça... Portugal é Lisboa e tudo o resto... O (condenado) Nordeste Transmontano tem duas belíssimas (e excelentes) salas: Teatros Municipais de Bragança e Vila Real... Cá esperamos a continuidade das produções...

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  2. Obg pelo comentário. As observações fizeram-me reflectir (sendo novo nos blogs) que o que escrevo, ou trago aqui em ralação actividades culturais, são muito centradas em Lisboa. Concordo a 300% que se deve descentralizar e usar os espaços que existem pelo pais fora. Uma solução de muito interesse por várias razões. Até que vários espaços foram renovados e construídos durante a época do José Maria Carrilho, que para mim foi o único Ministro da Cultura a sério que tivémos até agora.

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  3. Concordo a 300%... Eu é que agradeço pelo blog e suas partilhas. Continue...

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