segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

V.O. ou O.V.

VOVOVOV OVOVOVO VOVOVOV OVOVOVO VOVOVOV

ao longo da minha vida apoiei e lutei pela transmissão de informação em versão original _ filmes, óperas, etc _ sempre achei que a imagem está intimamente ligada à voz (som) e que a interpretação é fulcral e tem de ser preservada _ não ter ouvido Marlon Brando, Orson Wells ou Lawrence Olivier construírem visual e sonoramente as suas personagens teria sido um perda lamentável _ portanto, à partida, nada de dobrar
hoje em dia com as capacidades tecnológicas existentes, um filme sueco pode ter sonorização tailandesa e as legendas as que quisermos (as que estiverem incluídas no DVD). Por exemplo, vários países europeus têm tendência a dobrar quase a 100% os materiais televisivos e é confrangedor ver frases como Oh bébé traduzidas de Oh baby etc _ e além disso vamos ouvir a Natalie Wood, Meryl Streep ou Nicole Kidman com a voz da mesma senhora francesa que as dobra em contínuo. Ainda mais, a grande desvantagem dos espectadores ficarem menos expostos a uma língua estrangeira _ nisto os holandeses e portugueses têm sido privilegiados _ deixamos, claro, de fora a honrosa excepção de materiais para um público muito, muito jovem, que ainda não lê. Até a ópera pode ser mais agradável de seguir se for acompanhada de legendas _ não esquecer que para os menos habituées (e não só) às vezes é difícil entender, mesmo na língua nativa, o que é cantado pelo que a legendagem pode ajudar a perceber o que se passa. E como a heroína às vezes pode levar uma boa meia hora a dar os suspiros finais, nem há muitas legendas a ler pois o texto pode ser repetitivo _ algumas companhias como a English National Opera (ENO) traduz os libretos, mas sempre pus em causa esta ideia

mas algumas experiências recentes fizeram-me reflectir um pouco na minha posição quase “talibã” em relação à dobragem
_ um caso: numa exposição (em Lisboa) de José Guimarães (JG) _ o espaço no seu melhor: os trabalhos, os conteúdos, a iluminação _ tudo muito bem conseguido, num percurso temporal sobre a obra do artista _ onde se podia seguir a progresso da obra, os períodos, os motivos… e no final um filme onde JG divagava no écran sobre as suas motivações, temas, pelas suas experiências, sobre o seu “savoir faire” e onde partilhávamos, com ele, uma vida dedicada _ mas tudo em francês sem legendas, sem voz off, etc _ só para connaisseurs _ num espaço como aquele era bom termos ouvido o JG em português (até o próprio artista seria mais genuíno e mais à vontade na expressão dos temas versados)
_ outro caso, uma viagem charter para o Brasil, filmes em inglês sem subtítulos (e ainda por cima quase inaudíveis)

liguei o JG ao Charter destino Brasil e pensei _ que se passa? Se quiser assistir a obras de Goethe, Tennessee Williams ou Voltaire tenho de saber 3 línguas? _ óbvio que nestes casos a legendagem resolve o problema e no caso do JG, uma outra alternativa: a versão portuguesa era a opção a seguir

algo a pensar _ sim pelas versões originais, para preservar todo o conteúdo inerente à criação, à interpretação _ mas a mensagem tem de passar que não se deve descriminar, nem marginalizar, nem criar excluídos, isto é, ser elitista _ sempre pensei que nisto de termos versões originais era uma superioridade nossa, uma universalidade, um respeito pelo trabalho criativo dos actores, mas existem excepções a ter em conta

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