quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Contos breves (insólitos ou não ) (11)

CALMA

Gosto de me levantar cedo, sentar-me no pequeno jardim que contorna o meu lugar, sentir o frio da manhã, a tranquilidade da hora, e espalhar os papéis pela mesa que se misturam com os sons dos pássaros. Nestes momentos, sinto cada vez mais, que o pensamento (considerando ou não a alma) é uma voz tão interior que se ouve nitidamente e muitas vezes parece ser outro a sussurar dentro de nós. Gosto de me sentir calmo, com poder de discernimento e ser decisório, mas muitas vezes o turbilhão de “acontecimentos” dentro da minha mente deixa-me descontrolado. Sinto uma falta nítida de poder de decisão e de escolha, assustado e pressionado pelos muitos conteúdos que me povoam interiormente, e claro, também preocupado por não ser capaz de me organizar e de levar a cabo todas as tarefas a que me proponho. Na realidade, a mente humana é uma esponja de armazenagem e de permeabilidade a tudo o que nos envolve, e os múltiplos estímulos exteriores são potentes catalisadores de muitas reações em cadeia, que mais atrapalham ainda os conteúdos já existentes. 
Por isso, conforme dizem, a noite não é muitas vezes boa conselheira. Nnesse periodo de estado transiente, os problemas avolumam-se e tomam proporções assustadoras. 
Gosto muito de me levantar cedo, deixar a noite, e estar calmo no início do dia, no fresco matinal. Sentir que estou no controlo das etapas esperadas ou não, e tantas vezes tão difícil...
Muito cedo, antes de me levantar… um anjo, branco e etéreo, dá-me uma panóplia de pequenos comprimidos multicolores. Costumo voltar a adormecer lentamente. Acordo depois, levanto-me e caminho para o fresco do jardim, mais seguro de mim mesmo.
Calmo. Calmo.
Mas é bom conhecer os nosso limites e os nossos potenciais. 
Se os conseguirmos controlar melhor ainda. 


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