quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Contos breves (insólitos ou não) (6)

MÚSICA FINITA (ou... A ÚLTIMA MÚSICA)

Já não faz muito sentido pensar na idade que tenho. Milhares e milhares de anos se passaram desde a chegada do homem à Lua. Nem sei se consigo definir o meu corpo, nem como se processa o meu pensamento. O meu corpo é transparente/radiante/difuso e a mente dispara em todos os sentidos, capta o que escolhe, transmite o que preciso. Estou entre a matéria e a energia. Se uso estes termos é que sempre tive um fraco pela arqueologia científica. Aprendi que existiam referências pouco precisas a modos de transporte arcaicos inacreditáveis, e o espaço e tempo eram conceitos que começaram a ser discutidos por alguém/nome que encontrei (Einstein). Nem sonhava o que ia acontecer a estas "trouvailles" e às multidimensionalidades do problema.
No entanto é interessante que a música permaneceu nos nossos desejos e interesses … afinal não é a música a que melhor estimula o cérebro (outro nome pioneiro nestas coisas era Damásio, dizem)? Ao que sei, a evolução manteve esta apetência e a busca da beleza pelo som permaneceu, embora os meios de compor, reproduzir e difundir “sons” (músicas como diriam os nossos idos) sejam incomparáveis. 
Na realidade ocupo muito do meu tempo livre (que é muito, pois pouco tenho que fazer) a compor e a estudar a evolução e a fruição musical e a construir (prefiro que a compor) sonoridades… que são muito apreciadas nas nossas ondas energéticas, em particular, porque a solidão a que nos dedicamos nos leva à criação quase sem limites...
Agora muito preocupado. Utilizo doze notas musicais (com tons, semitons, sustenidos e bemóis … repetindo ciclos), escalas maiores e menores, sequências ordenadas de notas, escalas diatónicas e cromáticas, em claves que encontrei descritas. Tal como na música ocidental, também inspirado na música de uma região que existiu (China) utilizo outras escalas, isto é, conjuntos de notas dispostas de acordo com um certo centro tonal que também manejo, e onde existem diversos tipos de escalas cujo número de notas pode ser variável, tão pouco como 3 notas diferentes, a um máximo de 9, sendo que a esmagadora maioria utilizou uma escala de 5 notas (pentatónica). Não me esquivei ao dissonante. Tantas possibilidades usei!!!
Um pequeno cálculo no meu info-multi-VED-RX2 parece indicar que podemos estar a esgotar as possibilidades de conjugações/combinações de notas, escalas, tons, pelo muito que se compôs ao longo destes milhares de milhares de anos. E os detetores de consonâncias-coincidências analisam tudo e não perdoam (ética e plágio são pontos incontornáveis na nossa organização social/coletiva). 
Cada vez mais difícil fazer/criar algo de novo…
Arrisco-me um dia a compor a última sonoridade?  Problema que me preocupa deveras. 
Urgentes novas escalas… ou (re)inventar tudo de novo?
Não conseguiria viver sem "música".

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