segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Contos breves (insólitos ou não) (4)

ESPERO QUE TE ENCONTRES  BEM

Moro num prédio antigo, no centro da cidade, que tinha uma vista agradável. Recentemente foi construído um prédio “anémico”, mesmo em frente, completado nas traseiras com largas janelas/marquises de alumínio e claro, a paisagem mudou. Muitas janelas, muito movimento. Sem querer, comecei a “seguir” a minha vizinha da frente do terceiro andar. Rapariga engraçada, cabelo loiro esvoaçante, leve, frágil e quase transparente! Parecia pairar, e até cheguei a temer, que se abrisse a janela, poderia ser arrastada pela brisa… Quando chego a casa ao fim da tarde, a sua presença tornou-se um hábito e um desejo. A minha “vizinha” tem sempre um ar ausente ou concentrado, nem sei. Em geral observo-a a ler cartas, com muitas páginas, a leitura acompanha movimentos passeantes de cá para lá, com leitura em voz alta, assim adivinho. Outras vezes, sentada, escreve prosas que parecem intermináveis. À noite, na penumbra, a atividade continua. Nunca lhe vejo um telemóvel, computador ou outros. Rapariga à moda antiga, que gosta de cartas (de amor?). 
No outro dia, ao fim da tarde, chorava e rasgou alguns textos… 
Nunca a vi no café da esquina, também não em compras nas lojas das redondezas.
E um dia desapareceu…
Quem sabe se vai ler este texto?
E espero que se encontre bem…

Ps. “Rear Window” de A. Hitchcock não é inocente.


Sem comentários:

Enviar um comentário