segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Contos breves (insólitos ou não) (5)

O ALFA e o ÓMEGA

Porque razão quando crescemos perdemos a capacidade de observar as coisas de um modo puro e colocar as perguntas certas? Não quer isto dizer que não sejamos creativos e imaginativos ao longo da vida, mas falar e pensar sem barrreiras, muitos poucos o conseguem, devido aos muitos constrangimentos societais e  educacionais. 
Numa tarde quente de verão, debaixo da sombra de uma árvore protetora, quando o corpo amolece mas a mente não, observava o olhar inquieto daquele miúdo ao meu lado, que me fazia sentir Exupéry ao lado do Principezinho. E o meu comparsa, com o seu cabelo curto, loiro e ouriçado, contava-me que ia ter um irmão, e sem muitas questões indicou-me que estava na barriga da mãe. Dificuldade antecipada, mas superada, pois a questão parecia estar a ficar por ali. Enganava-me. Continuava a discorrer e perguntou-me de que barriga vinha a mãe dele, etc, etc… em contínuo crescente geracional. Bem, aqui estávamos a entrar nas “bonecas russas”, encaixadas umas nas outras e o tema era-me confortável de modo a conseguir talvez dar uma volta ao assunto, pois esta ideia do dentro e do fora sempre me fascinou (dentro de e fora de, dentro da célula e fora da célula, dentro e fora do planeta Terra, dentro e fora do Sistema Solar, etc, etc….). 
Mas a coisa não desarmava. Olhando a copa da árvore que estremecia levemente com a brisa da tarde, o miúdo olhou-me certeiro e disparou… e olha, e quando eu for grande onde é que tu vais estar? 
Uauuuuu… Duas megas questões numa tarde é muito para um “Exupéry”. 
Naquele momento senti-me mais pequeno que o meu Principezinho. 
Afinal, nem era capaz de responder a duas questões tão primordiais: o princípio e o fim…




















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